A Neue Nationalgalerie de Mies van der Rohe, em Berlim, entrou recentemente em uma nova fase com a abertura da intervenção de David Chipperfield - um prólogo ao iminente restauro da obra de Mies que o renomado arquiteto britânico está prestes a realizar. Concluída em 1968, a galeria foi o último projeto de Mies e sua obra prima final; por quase cinquenta anos ninguém ousou tocá-la - até agora. Para marcar esse acontecimento, uma grande instalação site-specific foi criada por Chipperfield numa tentativa de envolver Mies numa experiência espacial (ou talvez um último e apologético tributo ao mestre do século XX) momentos antes de embarcar numa missão que, em última instância, transformará o legado do arquiteto modernista.
“Ao passo que a arquitetura moderna é frequentemente criticada por esquecer a história e as qualidades inerentes da arquitetura, penso que Mies nunca fez isso. Esse é seu testamento." Comentou Chipperfield numa coletiva de impressa no hall principal da galeria, um esplêndido espaço quadrangular de 2.500m² fechado por vidro e coberto por uma enorme laje metálica apoiada por oito colunas externas, liberando, assim, o interior de qualquer elemento estrutural; a execução perfeita de Mies de uma planta flexível. "Nós imediatamente sentimos que se fizéssemos uma exposição sobre arquitetura na 'Sala Mies', Mies deveria ser o arquiteto pelo qual você começa", continuou Chipperfield. "Você tem que se envolver com a sala, não como um abrigo para a exposição, mas como um palco ou, de algum modo, o protagonista."
A instalação, intitulada "Sticks and Stones", é composta por 144 trocos de árvores, cada um com oito metros de altura, perfeitamente alinhados com a grelha estritamente simétrica da cobertura e descendo até o piso escuro e reflexivo de granito. "Penso que é muito interessante como a regularidade da localização das árvores faz a arquitetura", explica Chipperfield. "Não há nada mais complexo ou mais simples que organizar 144 colunas na mais bela sela de Berlim, e esperar para ver o que isso faz, espacialmente (...) vemos diferentes simetrias, diferentes espaços; você cria ambientes e vistas, e de alguma modo é isso que arquitetura é: não é nada mais que o arranjo da estrutura, paredes, fechamentos, vistas, abrigo e material."
Explicando seu ato paradoxal de introduzir colunas em um celebrado espaço livre de apoios, Chipperfield diz: "A coluna é um tipo de filha perdida da arquitetura moderna (...) Não precisamos mais de colunas. Pode-se criar um vão de cinquenta metros sem colunas, como nos mostra esse espaço. Colunas costumavam carregar uma linguagem, criar espaço, então, de algum modo, queríamos fazer um tributo às qualidades perdidas da coluna."
O título de duplo sentido da exposição se refere tanto às tradições materiais da arquitetura como ao seu significado: ao remeter ao famoso ditado inglês "Sticks and stones may break my bones, but words will never hurt me" [Paus e pedras podem quebrar meus ossos, mas palavras nunca me machucarão], Chipperfield afirma que o poder inerente da arquitetura está muito além das palavras: "De algum modo [o título] reforça a ideia de qua o físico é mais importante que o escrito e o falado, o que nós, como arquitetos, temos que acreditar."
Quando a exposição terminar os troncos serão desmontados e a intervenção real terá início: o restauro completo tanto da galeria como de sua mobília original, além do acréscimo de um vestiário, uma loja e um café.
Conseguirá Chipperfield cumprir sua missão de restaurar o legado final de Mies sem agredir sua composição e precisão perfeccionista? Numa paráfrase muito oportuna do lema "less is more" [menos é mais] de Mies, Chipperfield conclui:
“Quando tentamos fazer algo a mais, frequentemente fazemos muito menos, e isso é, para mim, o testamento desse edifício. É um edifício falho em muitos aspectos, mas suas qualidades arquitetônicas o protegem. De certa forma, ele nunca funcionou; este ambiente sempre foi um problema. Mas o amamos pelo que ele é, pois ele se encantou, não através de sua narrativa ou funcionalidade, mas porque permaneceu perto do que a arquitetura pode fazer."
A exposição teve início no dia 02 de outubro e permanecerá aberta até 31 de dezembro deste ano.